Janeiro Natural
Climatarian
Atualizado: 22 de jun. de 2021

Climatarian é uma dieta em que a prioridade não é apenas a saúde de quem a prática, mas também o bem-estar do planeta em todos os processos de produção. Assim, você não pode considerar apenas os nutrientes dos alimentos que consome, mas, principalmente, como você consome. De onde vem seu alimento? Como foi produzido? Que caminho ele percorreu para chegar ao seu prato? Quanto de transporte foi necessário para que ele chegasse às prateleiras do mercado? Quantas e quais embalagens foram produzidas para serem descartadas antes mesmo de chegar ao local de compra? Tudo isso precisa ser levado em consideração para que você entre nessa dieta, bem como a preferência pelo consumo local e sazonal.
“A mudança na dieta pode trazer benefícios ambientais de grande escala que não são alcançáveis unicamente pelos produtores” (trecho de um relatório da Organização das Nações Unidas - ONU - sobre o assunto[CJ1] ).

A dieta é baseada na sustentabilidade, por isso, usa cálculos que mostram a pegada de carbono de cada produto que consumimos (pegada de carbono é uma medida que calcula a emissão de CO2 emitida na atmosfera por uma pessoa, atividade, evento, empresa organização ou governo). Você sabia, por exemplo, que para cada quilo de carne de vaca são emitidos entre 60 e 70kg de CO2? Isso representa um aumento dos gases de efeito estufa e, consequentemente, da temperatura de nosso planeta, causando todas as mudanças climáticas que presenciamos hoje. Já para produzir 1kg de feijão, a emissão é equivalente a 2kg de CO2; vegetais e frutas da estação, menos de 1kg.
Outra questão a ser levada em conta é que, com o advento da globalização, o consumo tende para grande escala. Isso significa que ganha espaço a monocultura, que destrói a biodiversidade, tira os nutrientes da terra cultivada e, em alguns casos, se transforma em crise cultural e econômica, como veremos a seguir.
O custo do abacate

Rica em vitamina B, E, K, ácido fólico, magnésio e potássio, essa fruta tem benefícios inquestionáveis para a saúde. Com sua versatilidade para entrar em receitas salgadas e doces, o abacate foi criando cada vez mais espaço no cardápio de todo o mundo. A demanda pela fruta cresceu a tal ponto, que países como o México, um grande produtor, passou a enfrentar desmatamento ilegal e cartéis entrando em seu cultivo.
Na Europa, a importação da fruta chegou a 468.063 toneladas em 2017. Com isso, vários restaurantes europeus resolveram cortar ou diminuir seu consumo, para tentar frear todos os problemas causados pelo seu cultivo.
Desmatamento das florestas para dar lugar a plantações, pesticidas contaminando a terra e a água, crescimento desproporcional do consumo de água na região, tudo isso criou grandes impactos nas regiões onde são cultivados. Há, ainda, outras questões éticas: com o crescente consumo global, os preços do abacate ficaram instáveis, dificultando que a população local consuma a fruta. Além disso, muitos de seus trabalhadores não possuem boas condições de trabalho e, em alguns casos, nem salário garantido.
Febre por Quinoa

Segundo a ONU[CJ2] , o alimento que pode acabar com a fome mundial. 14% da massa total da quinoa é constituída por proteína. Sem glúten, rica em ômega-3, ferro, magnésio, zinco e potássio, a quinoa criou fama mundial, inclusive entre os veganos e vegetarianos, pela sua alta quantidade proteica.
Originária da América Central e parte da América do Sul, 80% da quinoa consumida no mundo inteira é produzida pela Bolívia e pelo Peru. Isso fez muitos trabalhadores voltarem ao campo para cultivar essa pseudosemente.
Em 2006, o preço da quinoa triplicou, levando muita riqueza aos dois países, que intensificaram ainda mais a sua produção. Em contrapartida, o produto ficou tão caro, que parte da população local não consegue mais pagar por ele. A produção em larga escala gerou disputas de terras na Bolívia e empobreceu o solo, já que, com tanta demanda, os produtores não deixam o solo descansar. Além disso quem está no campo ganha em média US$ 1,60 pelo quilo, enquanto é comercializada por US$ 30[CJ3] . Assim, a demanda mundial impôs a intensificação dos plantios, acabando com a biodiversidade nas regiões de cultivo para dar lugar à monocultura de exportação.
Porém, não é preciso tirar a quinoa do cardápio. O Brasil também é produtor. Pergunte sobre a origem da quinoa que você compra. Dê preferência à nacional, diminuindo o transporte e consequentemente a queima de combustível, e prefira produtores locais.
A monocultura leva riqueza para alguns e pobreza para muitos!

A monocultura leva grandes empresas a concentrarem grande parte da riqueza. Enquanto isso, a terra é consumida por desmatamentos e empobrecimento do solo. Como consequência, temos escassez de água, exploração de trabalhadores e impactos econômicos, sociais e culturais.
Outra preocupação que vem com a monocultura é a queima de combustível para transportar um determinado alimento para o mundo inteiro. Isso aumenta os gases de efeito estufa e faz com que a pegada de carbono cresça drasticamente. Além disso, quando o mundo inteiro quer consumir um alimento o ano inteiro, a produção não pode para. Nesse cenário, a sazonalidade é substituída por uma produção em série que custa mais energia para criar ambientes propícios ao cultivo.
O climatarian precisa levar tudo isso em consideração. Consumir produtos locais, respeitando sua sazonalidade, traz grandes benefícios à saúde, já que a natureza é sábia e colocou em cada fruta e legume, nutrientes que você precisa consumir em determinada estação e lugar.

Não podemos dizer que seguir essa dieta seja fácil. Nossa forma de consumir foi criada de modo a distanciar o processo de produção do consumidor. Dessa forma, não criamos empatia por trabalhadores do campo e desconhecemos suas condições de trabalho. Esse afastamento entre nós e a produção dos alimentos também significa ignorar a terra como um organismo vivo e não apenas como um recurso. Isso facilita a vida das empresas que não se preocupam com “ideologias e boas práticas”. Além disso, calcular a pegada de carbono é difícil. Foi criado um estudo “Cálculo e Rotulagem da Pegada de Carbono em Produtos Alimentícios”, mas nos resultados “foram constatadas a complexidade e custo da tarefa, tanto no cálculo como na rotulagem”. [CJ4] A Iniciativa Verde disponibiliza em seu site um cálculo para você saber a média de pegada de carbono que produz no dia a dia. Ele pede informações básicas do entrevistado e rapidamente faz esse cálculo: Veja em: https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora/index.php

O mundo precisa que mudemos a nossa forma de consumo e como encaramos a natureza. Essa mudança sempre começa dentro de nós. Enquanto esperarmos o mundo começar, colocamos a responsabilidade de nossos atos nos outros. Como disse Mahatma Gandhi “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”

César Janeiro Groke
Fundador da empresa Janeiro Natural